A Flor do Maracujá
«Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas do sereno
Nas folhas de gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!Pelas tranças da mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!Por tudo o que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo esse emblema
Da flor do maracujá!Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em — a —
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!»
Publicado no livro Cantos meridionais (1869).
O poeta é o patrono da cadeira n.º 11 da Academia Brasileira de Letras. Depois das mortes trágicas do seu primeiro filho e da sua primeira mulher, passou a viver de forma angustiada, boémia e desregrada, o que havia de precipitar a sua morte, também prematura, aos 33 anos, vítima de apoplexia, mas também por determinar a sua obra literária.
A sua poesia marca a transição entre as 2.ª e 3.ª gerações do Romantismo Brasileiro, a ultrarromântica e a geração condoreira (nome proveniente do pássaro condor e que traduz grande expressividade, grandeza e a ideia de infinito) e aborda várias temáticas desse movimento, tais como a depressão, a melancolia byroniana, a religião, a morte, a beleza da natureza e a exaltação à pátria.
Falamos de Fagundes Varela, no 170.º aniversário do seu nascimento.
Não conhecia este poeta, vou tentar conhece-lo melhor.
Gostei muito deste poema, é lamentável que as pessoas cada vez leiam menos
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