Carta a F.
«És tu quem me conduz, és tu quem me alumia,
Para mim não desponta a aurora, não é dia,
Se não vejo os dois sóis azuis do teu olhar.
Deixei-te há pouco mais dum mês, – mês secular
E nessa noite imensa, ah, digo-te a verdade,
Iluminou-me sempre o luar da saudade.
E nesses montes nus por onde eu tenho andado,
Trágicos vagalhões dum mar petrificado,
Sempre adiante de mim dentre a aridez selvagem,
Vi como um lírio branco erguer-se a tua imagem.
Nunca te abandonei! Nunca me abandonaste!
És o sol e eu a sombra. És a flor e eu a haste.
Na hora em que parti meu coração deixei-o
Na urna virginal desse divino seio,
E o teu sinto-o eu aqui a bater de mansinho
Dentro em meu peito, como uma rola em seu ninho!»
(Guerra Junqueiro, in ‘Poesias Dispersas’)
Homem de personalidade forte, perspicaz, alegre e com gosto pela vida, simples nos trajes, mas cuidadoso na aparência, com o seu bigode farto e olhar aquilino.
Influenciado por Baudelaire, Proudhon, Victor Hugo e Michelet, iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa Fez parte do grupo “Vencidos da Vida”, em 1888. A esse grupo também pertenciam grandes nomes como Eça de Queirós e Oliveira Martins.
Detentor de um ‘tom panfletário’ na escrita, bem como de uma riqueza verbal que contribuiu para a renovação do verso português, foi considerado por muitos como ‘o primeiro poeta latino depois de Victor Hugo’.
Autor de uma vasta obra onde se incluem títulos tão conhecidos como, ‘Vozes sem Eco’ (1867), ‘Baptismo de Amor’, com prefácio de Camilo Castelo Branco (1868), ‘Victória da França’ (1870), ‘Espanha Livre’ (1873), ‘A Morte de D. João’ (1874), ‘A Velhice do Padre Eterno’ (1885), ‘Finis Patriae’, (1890), ‘A Pátria’ (1896), ‘Oração ao Pão’ (1902), ‘Oração à Luz’ (1903) e ‘Prosa dispersas’ (1920).
Quando passam 88 anos da sua morte, relembramos Guerra Junqueiro.
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