À NOITE O TEU VENTRE…
“À noite o teu ventre é castanho da febre de Deus.
A minha boca agita tochas sobre a tua face.
Nada pesa a quem nunca ouviu uma canção de embalar.
Com a mão cheia de neve e incertocomo os teus olhos azuis, à hora redonda,
dirigi-me a ti. (A lua de outrora era mais redonda.)
O milagre soluça nas tendas vazias,
o jarrinho do sonho enregelou – que fazer?Lembra-te: uma folha enegrecida pendia no sabugueiro
belo sinal para a taça do sangue.”
(Tradução de Luís Costa)
Considerado um dos mais importantes poetas de língua alemã do Pós-guerra, vencedor do Prémio Georg Büchner, em 1960, romeno de nascimento, o seu verdadeiro nome era Paul Antschel, de cuja pronúncia derivou o seu pseudónimo. Viu os seus pais morrerem tragicamente em campos de concentração nazis, devido à sua origem judia e também ele esteve então detido e sujeito a trabalhos forçados, tendo sido libertado pelos soviéticos. Decepcionado com o regime comunista, em cuja ideologia socialista tinha antes militado, refugiou-se primeiro em Viena e depois fixou-se em Paris, onde veio a suicidar-se, por afogamento no rio Sena, fazem hoje 41 anos.
A sua obra, composta por mais de 800 poemas, evoca de forma muito marcada e singular o sofrimento judeu no Holocausto e, em especial, o drama da sua própria vivência. Tendo chegado a estudar medicina na juventude, foi ainda, para além de grande poeta, um consagrado tradutor de autores russos, italianos, franceses, ingleses e romenos. Entre muitos dos grandes poetas que traduziu, encontra-se também Fernando Pessoa.
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