À Luz da Lua!
“Iamos sós pela floresta amiga,
Onde em perfumes o luar se evola,
Olhando os céus, modesta rapariga!
Como as crianças ao sair da escola.Em teus olhos dormentes de fadiga,
Meio cerrados como o olhar da rola,
Eu ia lendo essa ballada antiga
D’uns noivos mortos ao cingir da estola…A Lua-a-Branca, que é tua avozinha,
Cobria com os seus os teus cabellos
E dava-te um aspeto de velhinha!Que linda eras, o luar que o diga!
E eu compondo estes versos, tu a lel-os,
E ambos scismando na floresta amiga…”
Poeta que se insere numa estética decadentista/simbolista, renovando o romantismo de Garrett e anunciando o modernismo de Sá-Carneiro, foi figura dominante do grupo Boémia Nova.
A tuberculose, que cedo o atacou, forçou-o a uma vida de peregrinação pela Suiça, Inglaterra e Madeira, acabando por morrer precocemente, o que não impediu que o seu nome figurasse entre os grandes poetas da literatura portuguesa de todos os tempos, levando Fernando Pessoa a afirmar: “Ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas”. (inhttp://www.bragancanet.pt/)
É na solidão do seu quarto da Rue des Écoles que escreverá muitos dos poemas que integrarão o “Só”, publicado em Paris em 1892, pelo editor dos poetas simbolistas, Léon Vanier. A obra é mal acolhida em Portugal, com excepção de alguns amigos, mas quando o livro é reeditado seis anos depois, as reacções já são mais favoráveis. Hoje, faz-se-lhe finalmente justiça e “Só” está entre os livros maiores da literatura portuguesa. “Só” é um retrato do país em fins do séc. XIX, em especial do Norte (Douro e Minho), feito com grande ironia.
Quando passam 111 anos da sua morte, relembramos António Nobre.
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