«Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.»
Começou a trabalhar como professora particular de português. A relação professor/aluno seria um dos temas preferidos e recorrentes em toda a sua obra – desde o primeiro romance. Os passos seguintes são o jornal “A Noite” e o início do livro ‘’Perto do Coração Selvagem’’, segundo ela, um processo cercado pela angústia. O romance persegue-a. As ideias surgem a qualquer hora, em qualquer lugar. Nasce aí uma das características do seu método de escrita, anotar as ideias a qualquer hora, em qualquer pedaço de papel.
Segundo a crítica francesa Hélène Cixous: “Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinquenta. (…). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá, onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber”.
Os seus últimos anos de vida são de intensa produção literária. Morre, no Rio, no dia 9 de Dezembro de 1977, um dia antes do seu 57.º aniversário. Relembramos Clarice Lispector, no 90.º aniversário do seu nascimento.
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