ESPELHO
“Sou de prata e exacto. Não faço pré-julgamentos.
O que vejo engulo de imediato
Tal como é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, simplesmente verídico –
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Reflicto todo o tempo sobre a parede em frente.
É rosa, manchada. Fitei-a tanto
Que a sinto parte do meu coração. Mas cede.
Faces e escuridão insistem em separar-nos.Agora eu sou um lago. Uma mulher se encosta a mim,
Buscando na minha posse o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o brilho e a lua.
Vejo as suas costas e reflicto-as na íntegra.
Ela paga-me em choro e em agitação de mãos.
Eu sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face alterna com a escuridão.
Em mim se afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrível.”
«Há quem veja nela a mártir romântica, autora de uma obra vivida intensamente até à exaustão que com ela se vai diluindo. Há quem veja nela a precursora do feminismo, da revolta contra um universo normativo masculino. Há quem veja nela o discurso político, pacifista, participando das movimentações ideológicas contra o sistema que atingirão o auge nos finais da década seguinte. Há quem veja na sua obra um eco estruturado de rituais iniciáticos. Há quem veja nela um espaço privilegiado para explicações edipianas ou reflexões sobre a esquizofrenia. Há ainda quem, cioso de saudáveis costumes pedagógicos, alerte para os perigos decorrentes da leitura e do ensino de textos constantemente enunciando experiências de limite. Talvez muito disso lá se encontre, mas não só. (…)» (Mário Avelar, no posfácio de “A Campânula de Vidro”)
Poetisa e romancista, de ascendência alemã, foi uma criança dotada e ambiciosa, que viu morrer o pai quando tinha oito anos, o que a marcou profundamente.
Numa busca pela perfeição e pela beleza poética e num tom confessional e autobiográfico, Plath aborda, como temáticas recorrentes da sua escrita, a paixão e as condições sociais e biológicas da identidade feminina. Em 2003, foi realizado o filme Sylvia (de Christine Jeffs), sendo Sylvia Plath interpretada por Gwyneth Paltrow e Ted Hughes por Daniel Craig.
Suicidou-se a 11 de Fevereiro de 1963, com apenas 30 anos de idade, no seu apartamento em Londres, intoxicada com gás.
Relembramos Sylvia Plath quando passam 48 anos da sua morte.
0 Responses to “Sylvia Plath”