O Poema
«Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silêncio
a hora teatral da posse.E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
insustentável, único,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das cisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistérioE o poema faz-se contra a carne e o tempo.»
É considerado uma das figuras mais importantes da poesia experimental ou concreta, bem como um dos seus principais cultores. É classificado como um poeta visionário e órfico, detém um lugar cativo na poesia surrealista portuguesa. A sua obra é complexa e, sem dúvida, uma das mais altas expressões da poesia portuguesa contemporânea.
Autor de obras tão conhecidas como ”Os Passos em Volta”, ”Ofício Cantante” e ”Bebedor Nocturno”, foi galardoado com o Prémio Pessoa em 1994. No dia em que celebra o seu 80.º aniversário, destacamos e damos os parabéns a Herberto Helder.
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