Acusam-me de Mágoa e Desalento
«Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.»
(Carlos de Oliveira, in ‘Mãe Pobre’)
É um dos grandes poetas deste século, combinando a preocupação de intervenção social (neo-realismo) com a reflexão sobre a escrita no próprio processo da sua produção, o que confere à sua obra grande densidade e agudeza nos efeitos diversificados da sua leitura.
Filho de pais portugueses emigrados no Brasil, tinha apenas dois anos quando a família regressou a Portugal, onde o seu pai exercerá Medicina.
Publicou poesia – “Mãe Pobre”, “Micropaisagem”, “Trabalho Poético e Pastoral”, entre outras obras – e romance – “Casa na Duna”, “Alcateia”, “Pequenos Burgueses”, “Uma Abelha na Chuva”, “Finisterra” e “O Aprendiz de Feiticeiro”.
Quando passam 30 anos da sua morte, recordamos Carlos de Oliveira.
0 Responses to “Carlos de Oliveira”