Nesta última tarde em que respiro
“Nesta última tarde em que respiro
A justa luz que nasce das palavras
E no largo horizonte se dissipa
Quantos segredos únicos, precisos,
E que altiva promessa fica ardendo
Na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
Senão em cada gesto e pensamento
E dentro destes vagos vãos poemas;
E já todos me ensinam em linguagem simples
Que somos mera fábula, obscuramente
Inventada na rima de um qualquer
Cantor sem voz batendo no teclado;
Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.”
Poeta significativo da actual poesia portuguesa, estreou-se na década de 60, apesar de apenas na década seguinte se ter afirmado com um «discurso centralmente inovador», como o considerou Joaquim Manuel Magalhães, exemplo de uma prática de efeitos intelectuais e de meios semânticos a que se junta uma certa técnica de distanciação narrativa.
Da sua obra destacam-se “Poemas” (1996), reunindo a obra já publicada e alguns poemas inéditos, “Quatros Caprichos” (1999), prémio APE de Poesia e “Duende” que, segundo Eduardo Prado Coelho, é «um dos mais belos livros de poesia amorosa que se escreveram desde há muito em língua portuguesa». O júri do Prémio “Corrente D´escritas” classifica-o como «um livro que conjuga numa tensão permanente o fragmento e a totalidade, num poema feito de 52 sonetos, onde a originalidade do processo enunciativo impera dificultando a leitura, mas onde o ritmo e a rima colmatam essa dificuldade no sentido de uma evidência.»
Destacamos António Franco Alexandre, no dia em que celebra 67 anos.
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